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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Família, um ótimo ponto de vista

Depois que analisei a grande polêmica que tenho lido a respeito da lei que possivelmente legaliza a união civil homoafetiva (que na verdade não são polêmicas, mas sim um chá misto de pseudo-intelectualidade amargo e dificílimo de engolir, que tem feito Petrarca e Erasmo de Roterdan se revirarem no caixão), não pude deixar de notar a dor-de-cabeça dos ativistas que têm mostrado preocupação quanto a possibilidade dessa nova diretiva constitucional entrarm em vigor, cujo núcleo baseia-se mais especificamente no conceito da Instituição Familiar Cristã.

1) Como o cristianismo viu e vê a Família.

Casal casado, filhos. O homem trabalha, a mulher cuida do lar e os filhos estudam, até o fim da vida de todos. A idéia de família cristã no Brasil e em muitos lugares do mundo foi assim durante décadas, e atualmente ela tem recebido remodelagens de acordo com a vertente cristã em que ocupa (as mulheres agora trabalham fora e participam da economia e das decisões do lar), mas tem resistido com força em cima da idéia de que ela é a base para as primeiras idéias de moral que um ser humano terá. Essa idéia é perigosa, e errada, pois o conceito arcaico da família tradicional ajudou a moldar o caráter de homens que viveram num tempo muito diferente do nosso.

Algumas pessoas sentem que esse conceito confortável de família, moldado séculos atrás e que perdura em muitas religiões até hoje, perca-se com os novos costumes da sociedade.

O fato é que já perdeu faz tempo. É uma idéia morta, do qual apenas o esqueleto se aproveita, mas muitas pessoas insistem em tentar ressuscitar não como um valor pessoal, mas como uma diretiva de vida digna pra todos. Uma cagação de regra muito estranha para uma sociedade que se define laica.

2) Onde foi parar a Família Cristã?

Nós vivemos tempos de tolerância e respeito, pois vivemos a era onde a informação atravessa o mundo em 1 segundo. O planeta nunca foi tão globalizado e cosmopolita como atualmente, e a tendência é progressiva. Resistir à isso é uma demonstração pública de puritanismo ignorante que cabem trabalhos acadêmicos pra descrever com fidelidade. Hitler tentou (e dessa vez sim, Hitler cabe como exemplo digno) e não conseguiu. Hoje seu vizinho é negro, sua esposa é chinesa, você pode adotar um tailandês e trabalhar para um russo numa companhia multinacional canadense, e as coisas funcionam não só perfeitamente como também de forma muito interessante. Você conhece mais a respeito de outras culturas, outros lugares, foge da Alegoria da Caverna diariamente e nem precisa se desviar da sua rotina para isso.


Além de toda a nossa diversidade étnica e cultural, os dias ficam mais rápidos e exigentes. Os pais têm que trabalhar o dia todo, e os filhos ficam adultos mais cedo. A idéia de família cristã existia quando esses fatores não eram uma influência comum na vida de todos, mas hoje é.

Uma família no ideal cristão hoje é uma opção, e não um contrato social.

As pessoas se divorciam e as pessoas não se casam mais, vão apenas morar juntas. Mulheres ficam grávidas e criam sozinhas os filhos. Cerimônias na igreja na grande maioria das vezes são fetiches quase folclóricos, e têm pouca ligação com a religião em si. E pelo que a bíblia sagrada define, Deus ama à todos mesmo assim.

3) Se é uma instituição falida, como a união homoafetiva pode ameaçá-la?

A Wikipédia define "Família" como um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimônio ou adoção.

Vemos então até essa definição primária de família que a união civil homossexual não ameaça a instituição familiar, ao contrário, a torna mais válida. A idéia de duas pessoas do mesmo sexo se ligarem através do matrimónio para celebrar o amor que têm uma pela outra, e adotar uma criança como filho é a prova de que esse mesmo amor vence os paradigmas da sociedade em busca de um bem maior. É uma prova de que a família ainda existe, e que ela não se limita a valores arcaicos.

Mas o curioso ainda é a preocupação de algumas pessoas com o fato de que ser homossexual se torne parâmetro obrigatório para constituir uma família, levando à raça humana à uma extinção fictícia. Essa idéia é ridícula e sensacionalista, mas é amplamente divulgada principalmente pelas pessoas mal informadas que tratam homossexualidade como um galho político-social com fundos conspiratórios, ou ainda um movimento étnico-cultural como a Renascença ou o Iluminismo, em busca de direitos e poder, para constituir uma posição mandatória ou, como ironizam alguns humanistas, uma "Ditadura Gay". Existem lunáticos e existem lunáticos que ficam famosos o suficiente para servirem de base para os primeiros lunáticos, mas isso não é de hoje.

4) Uma criança criada em um lar homossexual séra homossexual por doutrinamento dos pais? E ela sofrerá durante a vida pela origem de sua família?

Pensar que a homossexualidade é um vírus ou uma doença, ou ainda uma religião onde você ensina seu filho a segui-la, é um pensamento imbecil. A sexualidade de uma pessoa não depende de uma escolha, ela nasce e se descobre (a não ser que você vá para um acampamento evangélico onde irão te torturar e fazer lavagem cerebral em você até que você minta pra todos, e pra você mesmo, que você é hetero e viva uma vida infeliz ao lado de alguém que você não ama de verdade, até a morte).

A escala em que a sociedade começar a aceitar a nova definição de família que temos agora medirá quanto tempo vai levar para uma criança ter uma vida livre de repressões e violência em motivo de seus pais serem homossexuais. Isso depende de nós mesmos.

5) Até onde vai a visão de "amor" e "bondade" dos que são contra os direitos dos homossexuais?

Vai até onde ela consegue entender o que é realmente ser humano e abdicar do próprio conforto social e intelectual pra mudar de opinião e se preocupar mais com o bem estar do próximo que está sofrendo discriminação e violência, do que se apegar a valores velhos e já provados que não são nem um pouco eficientes.

Problemas familiares vão continuar existindo, sejam os chefes da família hetero ou homossexuais, e não é a sua orientação sexual que vai definir a origem dos mesmos. Famílias tradicionais cristãs ainda perdem seus filhos para as drogas, ainda vivem casamentos infelizes sob a fachada de uma familia moralista e decente, ainda sofrem com a violência doméstica, com a falta de condições de se sustentar, com a frieza, com a falta de amor, e famílias modernas (cristãs ou não) sofrem e irão sofrer dos mesmos problemas.

Faz parte de viver, independente da sua sexualidade. Celebremos isso juntos, ao invés de segregar. Afinal, isso é família, não é?

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