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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Não, não foi mulher alguma

Não! Não foi mulher alguma,

foi o avesso do corpo

isso de sofrer com culpa

mas sem culpa

Não foi nenhuma mágoa do desejo absurdo ou do querer inconcluso,

incompleto,

inadequado,

mas o absurdo do medo antes mesmo de se querer,

o susto antes do imaginar, a cortina que se fecha pela própria

mão, sarracena, estúpida, como um franquisque em soluço,

no segundo exato do desejar.

Guilhotina suspensa no âmbito do segredo

o medo

do corpo

Medo:

o corpo

Não! Não é isso! Foi o avesso do corpo – foi o metafísico estrume

de que nascem

flores sem textura...

flores de plástico sem raiz – flores que nascem de virgens flores sem
pólen ou semente,

divinas flores da improlífica histórica demente

que nasce do homem

Foi tudo tão... absurdo, mas tão absurdo,

visto do agora... Meu Deus! Absurdo!

absurdo é a palavra mais próxima e

foi o próprio Deus – apostrófico ou interjeitivo –

que me incucaram à cabeça, empalaram ao reto

como supositório culpadolítico abrasivo

Esse Deus estava em cada olhar em cada corpo em cada próximo

que se deve temer, e não amar.

como um cólito bigbrotheriano delator conspícuo... em cada pedra

estava o

olho

e também o circo... doce laço apascentável de matadouro...

Foi tudo e vocês que me fizeram

paralítico de qualquer vezo

tetraplégico dos poros...

Foi toda a súcia sifilítica parasitária ansiolítica

de saias ou não... de saias à cabeça... cortinas daquele medo...

palco do sombrio amor que inspira medo

- o medo de nós mesmos...

foi toda a canalha anticatalítica e estacionária, foi ela

- vocês -

com seus filhos e netos plurigeracionais eclesiásticos anímicos,

disciplinados, disciplinares,

"não gosto de su trabajo" ou "ermanos e ermanas" e seus "pontos e

ponto-e- bírgula"

pathos e pathos e pathos em poça sem onda e ibérico recalquer

submerso o pato feio, pequenino, em água rasa, cabeça

arranhada no fundo preto – mas pondo à vista o rabo –

vocês sub-sub-homens, conceituadíssimos ante a espécie progenitora,

ínclitos brochadores dos meninos

endêmicos sentadores no colo, no colos sodomítico,

socionobolitadores, estruturadores de personas, do futuro e do lastro

moral, hierofantes submissos,

só foram vocês, em discurso estreito como o meu de agora...

só foram vocês

filhosdaputíssimos conscientes desbastadores primitivos de caráter(s) e

inteligentzia(s), esculhambadores de espíritos,

que me fizeram também um grandíssimo

filho da puta

a vossa mercê

para vos merecer

a vossa imagem e semelhança

em tudo que minha ignota pouca monta

puder lhe aprazer de melhor, ou melhor, de morno

até o meu, o seu

fenecer

de viado ou de corno,

mas bem torneado, sempre

E como todos, todos os filhos, os filhos dos putos, em seu colegiado

bastardo

de idéias e sentidos,

estarão meus filhos e os netos de meus filhos,
escolásticos,
em precipício inevitável em sociável habilíssimo desporto e

pesonto,
filhos todos de brochura e brochada,

necrotério

e hospício

Érico Braga Barbosa Lima

Estilhaços de Babel, p.34-37


Fabiano GMAIL

Tenho blogs, sabia?
http://fabianomoraes.blogspot.com
http://artigoterapia.blogspot.com <<< esse é meu lado sério

Nunca se explique. Seus AMIGOS não precisam e seus inimigos não vão acreditar

"O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo." Honoré de Balzac

Um comentário:

O Amor disse...

Não conhecia ainda esse blog. Maravilhoso. O poema 'não, não foi mulher alguma' é simplesmente genial, tanto em sua estrutura, quanto (e ainda mais, claro) no teor. Voltarei para ler mais vezes.

Um abraço!