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terça-feira, 3 de abril de 2007

Déjà vu

Nada que eu faço é novo, nada que eu farei será novo. Repito, replico e implico, mas não crio. Criatividade tiveram os homens da cavernas, os navegadores, Graham Bell, Luthero, não.
O que eu prevejo, já previram, mas quando previram não era novidade; quando escrevo, sou previsível, segundo estudos. E tudo acontece novamente.

Melhoramos, e não recriamos, criamos, mas não descriamos. Junte um monte de inventos e faça um invento novo, mas cuidado para não ser chamado de bruxo e ser apedrejado. Palmas para os direitos autorais, que deixaram o inventor do alicate morrer de fome, mas enriqueceram Bill Gates, que não criou nada, mas comprou um programa do professor dele. De que vale entrar para história como o criador, se o próprio criador já é substituído freqüentemente pelos seus recriadores? Pastores, Padres, Cristãos recriam Jesus que recriou Deus que criou todos e não ganhou royalities ou registrou sua marca (imaginem-se com um (R) sobre sua cabeça).

Soneto, terceto, punheto, cornetto... enfim! Poesia, lamentação, exclamação, afilção existem desde que o mundo é mundo e não será, reles plebeu que recriará um sentimento, ou descobrirá o que acontece no seu pâncreas enquanto Pelé cata o cocô do cachorro.

“A Novidade veio dar à praia, a qualidade rara de Sereia, metade o busto de uma Deusa Maia, metade um grande rabo de baleia. A Novidade era o máximo, o paradoxo estendido na areia, alguns a desejar seus beijos de Deusa, outros a desejar seu rabo, pra ceia”. Oh mundo tão igual, tudo é tão igual... Gilberto Gil não disse nada de mais, só espalhou, como outros espalham. Até a recusa em imitar é imitação inversa.

“O futuro não é mais como era antigamente” – Renato Russo; “Eu vejo futuro repetir passado, vejo um museu de grandes novidades...” – Cazuza. Por que eles disseram isso antes de mim? Eu também penso assim, os pais e avôs deles pensavam assim também, mas eles foram espertos e patentearam! Cadê meus direitos autorais no que penso? Quero ser único, quero entrar para história, mas não consigo... sou um reles plebeu. “O tempo não pára”. Pára tempo, sou único, mas não sou exclusivo.

Quê? Vão à merda! Que são direitos autorais? Proteger quem imita? Imitar quem protege? Se for para evitar a repetição, que sejam os primeiros a serem demolidos, pois vocês são filial da idéia capitalista criada há séculos. Posso falar livremente de Platão e pratão, da Somlivre e do som livre, ninguém vai me impedir de imitá-los, não é possível! Sou papagaio de pirata, macaco de imitação pensante, penso, penso e não consigo me diferenciar deles, aliás, às vezes escolho o que vou imitar, mas nunca crio.

Pra beijar-te uso frases feitas; na cama, atuo como o ator pornô que vi semana passada e tu me respondes como a menina do livro de romance que está no sebo de um lugar que eu fui. Quem criou o “eu te amo”?, quem deu o primeiro beijo de língua? Palmas para o ser que falou “uga” e perpetuou a espécie: desde esse tempo, nós repetimos você.

Pegue um monte de palavras já criadas, junte ao seu modo e pronto: mais uma imitação. Você não sabe, mas essa receita é velha, como velho é seu pensamento. Vanguarda é uma palavra que deveria ser retirada do vocabulário; ela não existe! É ilusão! Romantismo, Modernismo, Achismo e outros ismos são balela... pensamentos organizados de forma diferente, mas nada que impressione pela novidade.

(Coma batata frita! Coma! Nada é mais inocente do que comer french fries, que não foram feitas na França, enche suas artérias de colesterol, engorda pra caramba e não nutre, apesar do Mc Donald’s faturar zilhões! Pudesse eu comer batata frita com a mesma voracidade com que comes, mas eu penso na dieta que começou segunda e não fiz, e me peso, então eu boto catchup, como tenho feito em tudo que como).

Referência literária? Nada, só um “colar” de computador! Intertextualidade? Cópia! Paradigma? Plágio! Releitura? Repetição! Regravação? Regravação! Nostalgia? Recordação! Conselho? Profeta do passado! Saudosismo? Já ouvi antes! Citação? Imitação! Imitação? Imitação! (ih, já disse)

Nada é futuro; futuro não existe. Nem futuro do presente, nem futuro do pretérito. Existe um presente que chama o passado e o planeja repetir. O Latim está certo! Pra que perder tempo conjugando o irreal? O futuro é um déjà vu e o passado é o porvir.

Você acha que já leu isso antes? Eu também.

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